terça-feira, 17 de junho de 2008

O Adolescente, a Escola e o Álcool – uma mistura difícil de digerir

“... Como está em fase de reorganização,
o cérebro adolescente é facilmente
influenciado pelo ambiente (positiva ou negativamente)...”
(blog Sala do Professor – 06/06/08)


Um dos pontos críticos em se tratando de educar adolescentes é a facilidade com que eles se envolvem em “perigos” ou são/ estão vulneráveis às novas experiências, nem sempre compatíveis com o que escola e pais esperam. Falo do acesso e uso de drogas em geral – as lícitas em especial (álcool e cigarro), a falsificação de documentos para ingresso em boates, o acesso à direção de automóveis sem licença.

Costumo dizer que as crianças nascem numa ilha de proteção chamada família. Neste grupo social, recebem toda a proteção necessária para sobrevivência nos primeiros anos de vida, quando ainda são muito dependentes e, em verdade até que saiam de casa quando adultos, pois são cuidados e continuam protegidos pelos pais quando cometem qualquer “bobagem” nas ruas.

A segunda ilha de proteção é a escola, um grupo social um pouco mais complexo, pois nele a criança entra em contato com as diferenças e aprende a lidar e sobreviver diante das diversidades que irá encontrar. De qualquer forma, ainda protegida. Todas as ocorrências são observadas, tratadas, cuidadas. As transgressões são discutidas, punidas quando necessário, e a pior sentença que um aluno pode receber é a exclusão do quadro discente: “convidado” a ser transferido para outra escola. No que diz respeito ao que ocorre dentro dos muros da escola, a segurança dos alunos – crianças ou jovens – é preservada.

A vida dentro da escola é um período de exercício de convivência social e desenvolvimento da autonomia mais ampliada. Espera-se que a criança / adolescente, ao sair, esteja preparada para viver fora dos muros escolares, longe da ilha protegida com condições de se defender e assumir a conseqüência de suas atitudes.

Lidar com a situação álcool, cigarro e outras drogas não é uma tarefa fácil para as escolas, que acabaram por assumir parte desta responsabilidade. Acontece que é possível desenvolver belíssimos programas preventivos: acesso à informação científica, melhoria da auto-estima, conversas com especialistas e outros. No entanto, sozinha, a escola não garante resultados. Afinal, não é no espaço da escola (espera-se) que o adolescente se alcooliza. É fora dos muros escolares e aí a responsabilidade é da família.

No entanto, a escola deve manter sua postura crítica e ética e não trazer para dentro do ambiente escolar, não importando as circunstâncias, qualquer manifestação que incentive o uso de tais substâncias. Seja em uma festa, uma apresentação de teatro ou atividades menores em sala de aula. Afinal, se a escola desenvolve qualquer programa de prevenção, não pode ser incoerente num dia de festa. Além do mais, existe uma lei federal que proíbe a venda de bebida alcoólica para menores de 18 anos.

Certa vez um aluno foi levado até minha sala por seu professor de biologia. A queixa era que este aluno havia desrespeitado o professor com brincadeiras inadequadas e palavras ofensivas. O aluno, muito nervoso, queria se explicar, mas o professor não deixava e insistia que faria uma queixa para processá-lo por danos morais. Quando dei a palavra, o aluno justificou sua atitude, mas fez questão de dizer o quanto se incomodava com as brincadeiras de seu professor que, ao beber a água da garrafinha que levava para a aula, fingia ser alguém embriagado, só para fazer graça aos alunos. Isto aconteceu em São Paulo, há cinco anos. Até então não tínhamos conhecimento das brincadeiras do professor, que abriu um espaço para a brincadeira do aluno.

Ficou claro que, lamentavelmente, os valores pensados e elaborados pela equipe dos dirigentes da escola nem sempre são, de fato, incorporados pelos professores e outros funcionários. Infelizmente quando se escolhe esta profissão temos que abrir mão de sermos cidadãos comuns, pois somos “cidadãos públicos”, de quem se espera atitudes a se espelhar.

Fiz toda esta introdução para ressaltar minha indignação por conta da notícia vinculada nesta manhã (17/06) pela Folha de São Paulo – “Cervejaria patrocina festa junina de colégio de SP.”
Trata-se do Colégio Santa Cruz, uma renomada instituição de ensino, que já esteve em segundo lugar no ranking das cinqüenta melhores escolas de São Paulo em outubro de 2001, segundo pesquisa da Revista Veja, e em 2007 ocupou o quarto lugar entre as escolas “campeãs do Enem”.

Independente de sua classificação entre escolas, o que importa é que o Colégio Santa Cruz está há anos na vanguarda da educação em nosso país, propiciando a seus alunos (de classe sócio- econômica média-alta) não só a preparação para o ingresso nas universidades, mas sua inclusão num mundo social que é real. Exemplo disso são os programas de voluntariado desenvolvidos pela escola. Alunos que vão para a sala de aula de outros adolescentes carentes e trabalham como monitores dos professores em aulas de informática e filosofia (entre outras).
(
www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u396533.shtml)
(
www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd090608.htm)

Uma instituição que, além do compromisso com uma educação de qualidade aos alunos e serviços sociais prestados a comunidade, respeita seus professores, não só remunerando como merecem, mas investindo na formação constante de seus quadros.

Com todo respeito que tenho pelo Colégio Santa Cruz, alguém se perdeu na organização desta festa. Assim, espero que este “gol contra” marcado no último final de semana seja para todos um alerta sobre a necessidade de ações integradas na escola –pensamento e ação- afim de não perder de vista sua linha filosófica pedagógico-educacional para questões de ordem comerciais e financeiras.
Até a próxima!
Um abraço,
Maria Angela

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Como lidar com a motivação dos alunos?!


E então, após aquele final de semana de chuva no qual você resolveu colocar a criatividade para funcionar e preparou uma seqüência de aulas incríveis, você chega à sala de aula e o que encontra? Um grupo de alunos sonolentos com olhar de: “Bom dia por que, professor??”
Nada agrada ao grupo, e o professor termina a aula com a infeliz sensação de que falou por 50 minutos para espíritos amigos que invisivelmente estavam presentes, mas que -como seus alunos- não manifestaram nenhuma opinião sobre o que acabou de dizer. E aí a grande dúvida: os alunos aprenderam? O que aconteceu? Vale a pena continuar a mesma atividade na próxima aula? Ou ficar zangado e dar uma bronca geral (aqueles 20 minutos de discurso do tipo “onde pretendem chegar, nem pensar que entrarão na faculdade com essa atitude, vocês verão, vai cair na prova e não saberão resolver, blá, blá, blá....”). Um sermão igualzinho ao da semana passada e da anterior.

Esta tem sido a grande queixa dos professores, especialmente do Ensino Médio. A falta de motivação dos alunos levando à falta de motivação dos professores em buscar outros meios de auxiliar o aluno na busca dos conhecimentos necessários em sua formação acadêmica.
A psicologia do desenvolvimento nos mostra grandes e significativas transformações que ocorrem num processo rápido e ao mesmo tempo longo - uma vez que se torna cada vez mais difícil para os adultos compreenderem ou aceitarem as atitudes irreverentes, preguiçosas e sem perspectivas dos adolescentes.

É sabido que enquanto o corpo se modifica (crescimento físico - desenvolvimento da sexualidade) seu modo de pensar (capacidade de abstração), de sentir e agir se alteram significativamente num processo único. As cobranças sociais e as escolhas são pressões externas que interferem no comportamento do adolescente em relação aos pais, professores, às regras de conduta, cuidados com o corpo (alimentação, drogas, repouso...) e, sobretudo, aos estudos.

O médico e psicoterapeuta Dr. Goldenstein (pg.20-1995) descreve a adolescência como um período da vida que se assemelha muito à reforma de uma casa: as paredes são destruídas enquanto se troca o piso e coloca-se novas cortinas. Tudo ao mesmo tempo sem que o morador saia de casa. Afinal, o adolescente está deixando a infância para ser adulto e viver todos os “sonhos de liberdade” que a mídia o leva a acreditar que fazem parte do “ser adulto”.

Em todos estes anos trabalhando com Ensino Médio, tenho notado que, ainda que entendendo e respeitando todo esse movimento natural de maturação, faltam respostas para maiores esclarecimentos, bem como uma luz no final do túnel pedagógico para que os professores não se desesperem tanto e possamos continuar sentindo prazer em estar com estes jovens na sala de aula.

Assim, fui buscar em outra área do conhecimento, a neurociência, um pouco mais de informação que somadas resultarão em conclusões muito interessantes. Entretanto, tomei o cuidado de não tornar tão simplórias as explicações cientificas, mas sem grandes aprofundamentos numa área que não domino. E ainda cuidei para que, sempre que possível, criar um viés com a psicologia da educação, afinal este é o nosso objetivo aqui.

Suzana Herculano-Houzel é uma neurocientista que tem publicado diversas obras sobre o funcionamento do cérebro numa linguagem de fácil compreensão para não especialistas desta área. Quando o assunto é adolescência, Houzel afirma que não é uma questão apenas hormonal como costumamos justificar o comportamento dos adolescentes, mas uma reorganização cerebral. Os hormônios, em verdade, têm a função de executores de um programa de desenvolvimento que começa no cérebro. Toda alteração no comportamento do adolescente: social-afetiva, emocional e cognitivo, é vista pala neurociência como etapas necessárias à conquista da independência adulta, no entanto, “orquestrado pelo cérebro” (PA.62,2005).

A respeito do desenvolvimento cognitivo, durante a infância até a adolescência, o cérebro vai aumentando de tamanho e também de quantidade sináptica – relações entre informações modificando idéias anteriores ampliando idéias e construindo novos conceitos (tal como Piaget, Vigotsky e outros mestres nos explicam). É nesta fase que ocorre a eliminação de sinapses excedentes. “O excesso de sinapses são consideradas matéria prima para o desenvolvimento de habilidade cognitiva: ele oferece um mundo de possibilidades nas diferentes combinações estabelecidas entre neurônios” (pag.67- 2005). Existe uma eliminação natural dos excessos sinápticos conforme a experiência: sinapses usadas constantemente se mantém e as demais são eliminadas (esquecemos todas as informações que não utilizamos).

Ao nascer, o cérebro é como um bloco de pedra bruta composta de todas as estruturas possíveis que serão lapidadas ao longo deste período, de acordo com o meio social em que está inserido e as escolhas feitas pelo indivíduo. Melhor dizendo, como não sabe em que país vai desenvolver sua linguagem, por exemplo, o cérebro está capacitado para aprender qualquer língua. Também está pronto para desenvolver as habilidades necessárias para exercício da profissão escolhida comprovando, assim, a teoria interacionista proposta por Piaget.
Como está em fase de reorganização, o cérebro adolescente é facilmente influenciado pelo ambiente (positiva ou negativamente). O que nos explica o porquê das diferenças entre os grupos-classes de acordo com a liderança que se manifesta ma turma: inertes, falantes, participantes, irreverentes...

Enquanto partes do cérebro se reorganizam quanto à abstração do raciocínio, outras partes vão cuidando do crescimento físico: um corpo que cresce rapidamente em dois ou três anos e nada por igual, das extremidades para o centro (pés e mãos, pernas e antebraços, coxas e braços). Além, claro, dos pêlos pelo corpo, odores e alteração da voz. Uma imagem que causa estranheza para o adolescente, pois seu cérebro ainda não se adaptou completamente a esta nova imagem corporal e precisa desenvolver novos comandos motores para dar conta do tamanho e força adquiridos.

Observa-se nesta fase que curiosamente os adolescentes passam horas na frente do espelho. Acredita-se que seja um modo de “auxiliar” a interiorização desta nova imagem corporal.
Já observaram com que freqüência encontramos uma aluna se olhando no espelho durante a explicação de uma matéria nova, como se a aula não existisse?
Outra transformação crucial, pois atinge o professor diretamente, é em relação ao sistema de recompensa do cérebro: a motivação para realizar tarefas, o tédio, a preguiça e o interesse por atividades de risco.

Em se tratando de oferecer alguma atividade, jogo ou brincadeira a uma criança, esta se contenta com pouco e aceita repetições com muito prazer. Está cheia de energia e curiosidade para tudo o que for proposto. Ou seja, seu sistema de recompensa está a “todo vapor”. No entanto, para um adolescente não é bem assim. A motivação para determinada atividade inicia-se antes de realizá-la, ou seja, diante de uma proposta, o cérebro “mede” o grau de satisfação que aquela tarefa/comportamento (brincar, trabalhar, ler um livro, namorar ou ver TV) poderá proporcionar e opta ou não por realizá-la. Assim sendo a motivação é uma amostra antecipada do prazer que o cérebro acha que pode conseguir se resolve realizar a atividade que funcionava bem durante a infância e auxilia as escolhas adultas, mas não é suficiente para o adolescente. Este comportamento adolescente está inteiramente ligado à queda de reprodutores de dopamina no cérebro, substância responsável pela resposta de prazer no sistema de recompensa. Logo, há incapacidade de estímulos que antes “funcionavam” como ativação do sistema. Uma das manifestações conhecidas é o tédio -tudo se torna muito chato!

As pesquisas revelam que o cérebro adolescente é incapaz de obter a mesma satisfação de outrora, mas muito aberto ao prazer obtido em situações de risco.

Observem como os alunos se dedicam aos estudos de meio que envolvem aventuras: caminhadas na mata, mergulho, subida em montanhas, passeios de barco, entrar em manguezais...

“Para a neurociência atual, o sistema de recompensa entra em baixa na adolescência, ao começar a perder receptores para dopamina e se torna, assim, mais difícil de ser ativado”(Herculano, pg.101-2005).

A fim de que se conviva mais facilmente com estas transformações até que a reforma esteja completa, a pesquisadora sugere alguns caminhos como a prática de esportes e exercícios físicos freqüentes, pois além de aumentar o tônus dopaminérgico do sistema de recompensa, é um bom remédio para a preguiça. Outra sugestão é oferecer uma grande variedade de estímulos novos: novos livros, novos autores, filmes de diretores de tendências variadas, debates motivadores –lembre-se que outra parte do cérebro está amadurecendo e que o dota de uma capacidade de raciocínio abstrato até então não reconhecida.

Cesar Coll nos fala em despertar a curiosidade dos alunos criando situações que chamem sua atenção, atraiam sua curiosidade. “Mover os alunos a explorarem seu entorno, indagando ativamente. O que chama a atenção das pessoas é a novidade, o complexo, o inesperado, o ambíguo, o que produz incertezas, o que encerra um problema ou apresenta uma interrogação” (pg.117 -2003).

Quando entendemos e respeitamos este momento de amadurecimento e proporcionamos ao adolescente situações que favoreçam o desenvolvimento sadio de seu “cérebro” –físico, social, emocional e cognitivo- sem levantar grandes expectativas de produto final, mas com um mínimo de padrão de qualidade, sem esperar que a aula seguinte seja tediosa ou tão animada quando a última com o lema “um dia de cada vez”, garantimos assim o fazer pedagógico sem prejuízos e sem desânimo por parte do professor e ainda, sem desgaste nas relações com o aluno.

Afinal, o que acontece com a mesma turma que na aula da matéria “X” vai muito mal e em seguida, com o professor “Y”, é um sucesso?
Está aberta a discussão.
Comente suas impressões. Conte-nos suas experiências com a motivação de turmas adolescentes.
Um abraço,
M. Angela

Referência Bibliográfica:

COLL, C. e outros - Psicologia da Aprendizagem no Ensino MédioPorto Alegre – Artmed - 2003
GOLDENSTEIN , E. - Adolescência, a idade da razão e da contestação São Paulo - Ed.Gente- 1995
HERCULANO-HOUZEL , S. – O Cérebro em transformaçãoRio de Janeiro - Ed. Objetiva - 2005

-------------------------------- - O Cérebro nosso de cada dia - Rio de Janeiro – Ed. Vieira e Lent – 2002

Hábitos de leitura

Pesquisa divulgada na UOL nos mostra os novos habitos de leitura de nossos jovens. Confira a matéria completa e comente.
Vamos discutir o assunto.
Um abraço!

http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/06/06/ult105u6572.jhtm