Recentemente, sem me preocupar com o conteúdo do filme, fui ver “Escritores da Liberdade”. Mais uma vez estava diante de um tema que retrata questões do nazismo. Entretanto, curiosamente um filme que a mim retratava o olhar e escuta pedagógica propostos por Alicia Fernandes e mais, como recém havia terminado uma leitura sobre o Método Psicogenético, não tive dúvidas em perceber semelhanças com a prática pedagógica da protagonista do filme.
Mas, se nada disso possa atrair o caro leitor deste blog, o filme vale por si só.
O Método
Quando estudamos Piaget, em geral a grande dificuldade é compreender a possibilidade de aplicação, no espaço real da sala de aula, de sua teoria. É sabido que Piaget realizou estudos de grande importância a respeito do desenvolvimento da inteligência humana, mas em nenhum momento desenvolveu um método de ensino com base em seus estudos. Felizmente, muitos pesquisadores da educação foram capazes de criar metodologias pedagógicas levando em conta as contribuições de Jean Piaget.
No Brasil, o professor Lauro de Oliveira Lima, figura marcante na história da educação brasileira, contemporâneo de Darci Ribeiro e Paulo Freire, foi considerado um reformador do ensino brasileiro em função de suas críticas ao sistema. Oliveira Lima buscou respaldo científico nos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual das crianças para criar o Método Psicogenético – uma visão pedagógica da teoria piagetiana.(*)
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Mas, se nada disso possa atrair o caro leitor deste blog, o filme vale por si só.
O Método
Quando estudamos Piaget, em geral a grande dificuldade é compreender a possibilidade de aplicação, no espaço real da sala de aula, de sua teoria. É sabido que Piaget realizou estudos de grande importância a respeito do desenvolvimento da inteligência humana, mas em nenhum momento desenvolveu um método de ensino com base em seus estudos. Felizmente, muitos pesquisadores da educação foram capazes de criar metodologias pedagógicas levando em conta as contribuições de Jean Piaget.
No Brasil, o professor Lauro de Oliveira Lima, figura marcante na história da educação brasileira, contemporâneo de Darci Ribeiro e Paulo Freire, foi considerado um reformador do ensino brasileiro em função de suas críticas ao sistema. Oliveira Lima buscou respaldo científico nos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual das crianças para criar o Método Psicogenético – uma visão pedagógica da teoria piagetiana.(*)
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*Em 1972 fundou uma escola experimental no Rio de Janeiro, “A Chave do Tamanho”, que teve autorização de Piaget, em uma carta escrita de próprio punho. Hoje, aos 87 anos , ainda está engajado nas questões político- educacionais.
O Método Psicogenético apóia-se no tripé:
O Método Psicogenético apóia-se no tripé:
I.Situação problema: toda atividade proposta para a criança deve ser transformada em uma situação problema com o grau de dificuldade exato para que não resolva com facilidade, porém que alcance a resolução. Nada de entregar o raciocínio pronto para a criança, mas propiciar que ela estruture as idéias, levante hipóteses , tire conclusões. O professor é o mediador do conhecimento. Sempre que a criança fizer a atividade proposta com segurança, o professor complica a situação, cria um desafio para continuar a desenvolver-se;
II.Dinâmica de grupo: As soluções devem ser sempre discutidas em grupo para que as crianças aprendam a ouvir e serem ouvidos, respeitar idéias divergentes, cooperar entre si, reestrutur suas idéias;
III.Tomada de consciência: toda atividade depois de resolvida é colocada em debate com o intuito de fazer as crianças explicarem como resolveram a situação problema, que raciocínio fizeram, como encontraram a solução.
O mapa conceitual da estrutura didática proposta pelo Método Psicogenético permite melhor compreensão da base teórica de Jean Piaget:
(Fonte: Lauro de Oliveira Lima, 1981 - retirado da Apostilas do Curso “Piaget na Clínica Psicopedagógica”- Profa. Juhi Cavadagne )
Os Escritores
O Filme “Escritores da Liberdade” (Freedom Writers, EUA, 2007) relata a história verídica de uma professora americana -Erin Gruwell- que se propõe a lecionar Língua Inglesa e Literatura para os alunos de primeiro ano de “high school” e enfrenta , em sua primeira experiência docente, uma turma de adolescentes muito resistentes ao ensino convencional, pois segundo os mesmos, “em nada acrescentava ou modificava suas vidas fora dos muros escolares”.
Em suma, seu primeiro desafio foi “desarmar” seus alunos e criar um clima pacífico de convivência. Afinal, a sala de aula tornara-se uma reunião de gangues avessas ao convívio pacífico, em função das diferenças raciais. Fora da escola, estes grupos vivem em guerra. Alguns alunos cumprem ou já cumpriram pena judicial, perderam amigos ou parentes ou ainda, já foram feridos com tiros. Uma classe marcada pelo rótulo de irrecuperáveis e sem futuro numa escola reconhecida pelo programa de inclusão social que aparente desenvolve.
O fio condutor para desencadear uma “reforma educacional” em sua sala de Língua Inglesa e Literatura foi uma provocação sofrida por um aluno negro. Revoltada com a situação, Erin traz as questões do nazismo para dentro da sala de aula como referência à perseguição sofrida por “homens brancos”, que na visão destes estudantes eram os detentores do poder e com os mesmos nada de ruim aconteceria.
Deixando de lado os “conteúdos programáticos”, necessitava conquistar a confiança dos estudantes, reconhecendo a realidade em que vivem, sem superprotegê-los ou subestimá-los, pelo contrário, mostrando a realidade além dos guetos em que estão inseridos.
Erin descobriu que dar voz aos alunos era uma maneira de permitir se perceberem, reescreverem sua história e se reverem no mundo. Sua estratégia foi o uso da palavra escrita. Seus alunos eram instigados a produzirem textos autobiográficos – passagens de sua vida, momentos importantes, conflitos, sonhos...
Apropriando-se da escrita como ação de transformação (atividade com significado), necessitavam recorrer aos conhecimentos da gramática, dicionários e outros recursos a fim de tornarem a comunicação de suas idéias a mais compreensiva para seus possíveis leitores. (Obs.: o projeto desenvolvido pela professora americana resultou em um livro, publicado nos Estados Unidos em 1999, no qual o filme foi baseado).
Quanto ao estudo da literatura, Erin sugeriu a leitura de diferentes títulos que abordam questões cruciais da humanidade, propiciando aos alunos a percepção de pontos em comum entre suas histórias de vida com o que liam.
O contato com obras como “O Diário de Anne Frank”, por exemplo, foram ingredientes importantes para a compreensão dos jovens quanto à necessidade, entre outros, de tolerância mútua e respeito às diversidades para viver em comunidade: serem notados e respeitados.
Contudo, no decorrer do processo educacional mediado pela professora Erin, foi notória a mudança na atitude dos alunos – auto-estima, convivência, visão de mundo, construção de uma vida social mais digna.
Mais do que bons leitores e possíveis escritores, a professora americana transformou seus alunos em seres capazes de pensar criticamente sobre sua realidade social, não aceitando, sem hesitar, as idéias de seu grupo ou líder fanático, responsáveis por suas escolhas.
“O professor que faz o aluno ler, comentar, analisar, dissecar, apreciar textos de alto valor literário, não precisa preocupar-se com o ensino da gramática, que é uma atitude fria e lógica sobre um problema de natureza altamente afetiva como a linguagem literária ou coloquial (Lima, 1974, p. 104).
Metodologia X Filme
O quadro abaixo nos traz, resumidamente, o “Método Psicogenético em Dez Mandamentos”. Proponho verem o filme acompanhando esses passos e concluírem por si a proposta deste texto: “a metodologia proposta por Lauro de Oliveira Lima à luz da teoria piagetiana numa prática possível”.
1 - Não ensine: provoque a atividade da criança (algo parecido com a brincadeira tradicional de "adivinhação");
2 - Leve as crianças a discutirem entre si a situação proposta e respeite suas conclusões, mesmo que "erradas" (a solução dada pelas crianças corresponde ao seu nível mental);
3 - Não trabalhe na base da linguagem (sendo um produto social assimilado por imitação, a linguagem nada diz sobre o verdadeiro nível de desenvolvimento da criança);
4 - Não prestigie a memorização: o melhor resultado é o que demonstrar capacidade de inventar e descobrir (mesmo que, do ponto de vista do professor, a solução seja errada);
5 - Comporte-se como técnico do time de futebol: estimule, sugira, critique, mas não jogue (o jogo é das crianças);
6 - Use como "material" o que existir no mundo da criança (seja ela de uma favela ou de um bairro grã-fino);
7 - Sempre que a criança superar um patamar, “complexifique” a situação (sem isto, a criança se "especializa" na solução obtida);
8 - Na alfabetização utilize as marcas e logotipos que estão espalhados pela cidade e são utilizados no dia-a-dia da família (não se prenda às cartilhas);
9 - Organizar as crianças em grupos (pode até tomar como modelo inicial o escotismo), deixando que elas criem as regras de convivência (educação moral e cívica é democracia);
10 - Leve as crianças a compreender o que fizeram ("tomada de consciência"), quer a atividade seja motora, verbal ou mental (incluindo, aí, os atritos surgidos entre as crianças). (Lima, 1984a, p. 70).
Bibliografia:- “A OBRA DE LAURO DE OLIVEIRA LIMA” - www.pedagogiaemfoco.pro.br/per10g.htm
- “LAURO OLIVEIRA LIMA: REBELDE QUANDO A CAUSA É A EDUCAÇÃO” - Mara Lúcia Martins - www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0069_04.html
- “O FILME ESCRITORES DA LIBERDADE E A FUNÇÃO DO PENSAMENTO EM HANNAH ARENDT” - Raymundo de Lima -http://www.espacoacademico.com.br/082/82lima.htm
Ficha Técnica:
Filme: Escritores da Liberdade (Freedom Writers, 2007)
Gênero: Drama Duração: 123 min
Origem: Alemanha - EUA
Estréia - EUA: 05 de Janeiro de 2007
Estúdio: Paramount Pictures Direção: Richard LaGravenese
Roteiro: Richard LaGravenese
Aproveitem o filme!
Um abraço,
Maria Angela